segunda-feira, 29 de março de 2010

MISSAO _ GERAR VISIBILIDADES



Como escreve Foucault, a sociedade contemporânea é dominada por dispositivos que controlam os fluxos e espaços, conforme as exigências da lei do capital. Nesse contexto de controle exercido pelo que o sociólogo francês chama de "biopoder" são geradas visibilidades determinadas, com o objetivo de acrescer o consumo e de perpetuar um sistema instaurado pelas políticas vigentes.
Este estado de fatos vai gerando zonas de exclusão, que segmentam o espaço urbano, nas quais existem formas de vida próximas do que o teórico italiano Agambem chama de "vida nua", isto é, uma vida reduzida ao mínimo,  próxima da vida automática, ignorada, anônima, desconsiderada.
Nestas zonas de exclusão, encontram-se os eufemisticamente denominados "moradores de rua", sem condições de higiene, de alimentação e de saúde.
Observa-se, que, se o homem contemporâneo é naturalmente entorpecido, necessitando sempre mais emoções fortes para acordar, diante da proliferação destas situações de "vida nua", o olho fica mais do que entorpecido: cego. 
E é assim que diariamente, passamos em frente dos moradores de rua, moradores estes que nosso olhar já coloca novamente em situação de exclusão, porquê além da situação em si, há o olhar sobre ela, que a gera, a constrói e a perpetua.
A performance chamada "Poder da invisibilidade" atualiza o questionamento sobre a exclusão, provocando um estranhamento do olhar diante do herói deitado ao lado de um "morador de rua".
Quem é herói? O "morador de rua" que, dia após dia, enfrenta dificuldades extremas para a sua sobrevivência ou o aquele que, dentro de seu escritório, toma decisões que irão conduzir a gerar mais pobreza e miséria sendo, porém, considerado como um homem de sucesso?
A performance não propõe resposta a este respeito, mas, provocando o deslocamento do olhar, mas se coloca como um lugar de resistência, uma linha de fuga - para citar Deleuze -, para além das visibilidades e dos dispositivos tradicionais.
Essa visao do fazer artístico como prática de resistência, como linha de fuga é fundamental no entendimento do trabalho do Coletivo como um todo, e mais especificamente, nesta açao.
Tania Alice

2 comentários:

  1. que vocês continuem desestabilizando a invisibilidade das coisas que não podem se tornar invisíveis! go ahead!

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